terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Poema Para Refletir

Romance na Vida

No campo, em que o luar engrinalda a escumilha,
O par freme de amor, a noite dorme e brilha.

Ele, o poeta aldeão, era humilde pastor;
Ela, a fidalga, expunha a mocidade em flor.

Ao longe da mansão, quantos beijos ao vento!...
Quantas juras de afeto à luz do firmamento!

Em certa noite, a eleita envia antigo pajem
Que entrega ao moço ansioso imprevista mensagem.

“Perdoe – a carta diz – se não lhe fui sincera
Desposarei agora o homem que me espera.

Nunca deslustrarei o nome de meus pais.
Nosso amor foi um sonho... Um sonho. Nada Mais”

Chora o moço infeliz, sem ninguém que o conforte,
Surdo à razão, anseia arrojar-se na morte.

Corre à choça de taipa. A gesto subitâneo,
Arma-se em desespero e arrasa o próprio crânio.

Foi-se o tempo... E, no Além, o menestrel suicida
Era um louco implorando um novo corpo à vida.

Um dia, a castelã, no refúgio dourado,
Morre amargando, aflita, as lições do passado.

Pendem alvos jasmins do féretro suspenso,
Filhos clamam adeus em volutas de incenso.

Largando-se, por fim, dos enfeites de prata,
Sente-se agora a dama envilecida e ingrata.

Lembra o campo de outrora e o pobre moço aldeão,
Pede para revê-lo e rogar-lhe perdão

Encontra-o, finalmente, em vasta enfermaria,
Demente, cego e mudo em angústia sombria.

Ela suporta em pranto a culpa que a reprova,
Quer voltar para a Terra e dar-lhe vida nova.

A eterna Lei de Amor no amor se lhe revela,
Retorna ao corpo denso em aldeia singela.

Hoje, mãe a sofrer, fina-se, pouco a pouco.
Carregando no colo um filho mudo e louco...

E enquanto o enfermo espraia o olhar triste e sem brilho,
Ela vive a rogar: “Não me deixes, meu filho!...”

O romance prossegue e os momentos se vão...
Bendita seja a dor que talha a perfeição.


                      Alphonsus de Guimaraens (Poeta Mineiro Desencarnado)

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