Não sou feliz! A felicidade não foi feita pra
mim! Exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isso, meus caros
filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis a verdade desta
máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo.” Com efeito, nem a
fortuna, nem o poder, nem mesmo a juventude florescente, são as condições
essenciais da felicidade; digo mais: nem mesmo a reunião dessas três condições
tão desejadas, uma vez que se ouvem sem cessar, no meio das classes mais
privilegiadas, pessoas de todas as idades se lamentarem amargamente da sua
condição de ser.
Diante de tal resultado, é inconcebível que as
classes laboriosas e militantes invejem com tanta cobiça a posição daqueles a
quem a fortuna parece ter favorecido. Neste mundo, qualquer coisa que se faça,
cada um tem sua parte de trabalho e de miséria, seu quinhão de sofrimento e de
decepções. De onde é fácil chegar à conclusão de que a Terra é um lugar de
provas e expiações.
Consequentemente, se a morada terrestre está
destinada às provas e à expiação, é preciso admitir que existem alhures moradas
mais favoráveis onde o espírito do homem, ainda aprisionado numa carne
material, possui em sua plenitude os prazeres ligados à vida humana. Por isso,
Deus semeou no vosso turbilhão esses belos planetas superiores para os quais os
vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um dia, quando
estiverdes suficientemente purificados e aperfeiçoados.
Todavia, não deduzais de minhas palavras que a
Terra esteja dedicada para sempre a uma destinação penitenciária; não,
certamente! Porque os progressos realizados podeis deduzir facilmente os
progressos futuros, e dos melhoramentos sociais conquistados, novos e mais
fecundos melhoramentos. Tal é a tarefa imensa que deve realizar a nova doutrina
que os Espíritos vos revelam. (François – Nicolas – Madeleine – Cardeal Morlot,
Paris, 1863)
Fonte: O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Cap. V, Bem Aventurados os Aflitos, pags. 63-65.
Nota Minha: O sentimento de incompletude
acompanhado de uma angústia sem sentido seja em momentos que nós julgamos
felizes ou em outras situações muito sofridas, nos mostra que há algo de
“errado”. É que na verdade buscamos a felicidade em zonas erradas e que não
cumprem senão uma milésima parte perto da verdadeira satisfação de quando
encontramos a paz de espírito nas
coisas efêmeras da vida. Cito paz de espírito, porque é através dela que
chegaremos à tão sonhada felicidade terrestre, pois, numa morada onde as provas
e expiações dominam não há a possibilidade - pelo menos enquanto nosso planeta
não subir aos degraus superiores da evolução espiritual - de se chegar à
felicidade plena, que é, por sinal, desprovida de sentimentos materiais como a
ganância e a inveja, por exemplo. Assim sendo, a única possibilidade real de
sermos felizes na Terra em que conhecemos é através do uso das leis morais que
dizem respeito ao fazer o bem sem
qualquer discriminação e à utilidade
geral, que trarão, sem sombra de dúvidas, um sentimento de tranquilidade que permeará todo o corpo
material e atingirá o perispírito entrando em contato direto com a alma, levando
a uma satisfação que se aproximará da felicidade
real encontrada nas moradas mais evoluídas. Por isso, a melhor forma de
sermos felizes é ter em mente que as nossas únicas construções que realmente
ficarão eternamente consolidadas na Terra, e que nos trarão a paz de espírito, são àquelas que dizem
respeito ao cumprimento das leis morais principalmente no ramo da Caridade, seja esta material, moral ou
diretamente espiritual. O restante se transformará, pois tudo que se encontra
em um mundo dominado pela matéria será eternamente modificado e transformado,
nada permanecerá com a mesma forma, o diamante se transformará em carvão e o
corpo humano em matéria orgânica útil para o desenvolvimento do solo e dos
ecossistemas.